Não, não é aquele cigarro “se me dão”, é um medo grande, pavor mesmo: eu tenho medo de extremistas, de fundamentalistas.
Tenho medo de pessoas que não se contentam em defender suas causas, precisam impor a sua crença sobre outras pessoas, precisam arrasar com as pessoas cujas crenças não concordam com as suas. Doutrinação, lavagem cerebral, tudo isso e mais outra coisa…
Nesta semana eu tava acompanhando um debate no rádio – o que já era o primeiro problema, conforme o Fernando argumentou num post do seu blogue:
Não tenho assistido ao Roda Viva, na TV Cultura, principalmente pela falta de educação dos entrevistadores, incapazes de permitir que o entrevistado conclua uma resposta. Além disso, atropelam uns aos outros, transformando um programa legal em uma mesa redonda futebolística.
Imagine este mesmo cenário no rádio: é impossível seguir o raciocínio; qualquer um, nem o nosso. Porque o tema era polêmico, eu resolvi tentar.
Foi aí que comecei a temer aquelas pessoas.
Os debatedores são adultos jovens entre 30 e 40 anos, com formação universitária, classe média, média-alta, de etnias diversas; o assunto era uma notícia veiculada um dia antes sobre um homem que foi linchado depois de ser acusado de um crime hediondo.
O sentimento que tenho quando ouço falar daquele tipo de crime é de repulsa e revolta. Muitas vezes eu já disse aqui, meio brincando e meio a sério, que sou a favor da vasectomia sem anestesia em alguns casos; o problema é que só acredito nisso quando o cara é preso em flagrante ou a sua culpa é comprovada depois de muita investigação corroborada por provas.
Esse não era o caso da notícia discutida; no entanto, os debatedores defenderam o linchamento do acusado no ar, com uma veemência e uma paixão que me assustaram. Não havia nenhum questionamento sobre a veracidade da notícia, da acusação, nenhum questionamento ético, moral, médico, legal [jurídico], psicológico, nada.
Minto, havia uma voz discordante que levantou estas questões e logo foi soterrada sob as acusações de leniência, de aprovação do crime, de defesa do acusado e que por muito pouco não chegou a ser moralmente agredido – talvez tenha sido mais tarde, eu só agüentei aquilo por 15 minutos.
Fico matutando cá com meus botões… Mesmo que o tal acusado se revele culpado, mesmo que eu lhe deseje a vasectomia a frio um dia, mesmo que aqueles debatedores se juntem todos pra esfregar na cara da voz dissonante “eu te disse! eu falei!”, terá valido a pena?
Eu tenho a sorte de contar com um pouco de espírito crítico, mas e as centenas de pessoas que só contam com a rádio local para tomar partido e formar sua opinão? Vão achar certo e justo sair por aí, em massa, limpando o mundo da escória?
Ou, como disse um deles logo na apresentação, antes até de anunciarem o tema:
Isto não é um debate, é uma sentença. Nós não viemos aqui para debater, viemos para sentenciar.
Eu tenho muito medo.
Naomi, tenho rodado incessantemente nesse tema de intolerância.
Por princípío, costumo me posicionar na outra trincheira quando sou confrontado com os “donos da verdade”, isto é os fundamentalistas. Por isso mesmo, defendo o direito das pessoas crerem naquilo que bem quiserem ao contrário de Dawkins e quejandos. Fiquei entusiasmado com as resenhas sobre “Ortodoxia” de Chesterton – mesmo sem ser católico. Lerei.
Qualquer um pode ser crente, ateu, filisteu, o diabo que bem entenda. Só não pode impôr (sentenciar) isso.
Para finalizar com uma frase “toda sua”: “não sabe brincar, devolve a bola”. Tenho dito (risos).
Abraços.
fernando, eu também tenho esse hábito de contrariar [às vezes só por hábito, nem tanto por convicção] quando um fundamentalista chega perto.
vou aguardar sua resenha do livro.
😉
Naomi e Fernando,
Você ainda estão falando de um tema sério, o maior problema é que os “donos da verdade” têm se espalhado pelo país em todos os níveis e nos mais diversos assuntos. Você é capaz encontrar gente quase voando no pescoço de seu interlocutor até pelo lado que escolheu para sair pela porta não ser o certo.
No caso de religião isso tem se propagado ainda mais há medida que aumenta o número de pessoas vinculadas as “novas religiões” evangélicas.
Sem esquecermos dos adeptos da linha esquerdista: no Brasil ser de direita é ser reacionário, sem preconceitoso, quase é ser ilegal.
si, verdade! vivemos no meio de patrulhas de todo tipo: os saudáveis, os ecológicos, os politicamente corretos, os culturais… os que tentam impor o sentimento de orgulho nacional obrigando os canais de tv paga a reservar quota pra produções brasileiras! tudo farinha do mesmo saco, tudo terrorista.
Sabe uma partida de futebol com trocentos times e um só gol?
Assista, mas não torça.
é, pior coisa é se envolver numa discussão com um desses caras. nunca mais que a gente sai.
😦
Deus nos proteja daqueles que têm certeza.
tenho horror a fundamentalistas de todo tipo. gentinha que me dá nojo.
e um tédio profundo, de tanta estreiteza de visão.
eu tenho que me policiar muito porque às vezes caio nessa de defender meus pontos de vista.
😦
Tava lá no internETC e tem um texto ótimo, Não Há Ideologia Que Justifique, que mostra que não somos só nós que sentimos isso: http://cora.blogspot.com/.
Beijos
si, valeu!!
bjao