Snuff, o próximo Discworld

Aparentemente será um romance policial – não apenas porque será estrelado por Sam Vimes, mas porque ele estará de férias em sua propriedade no interior e “mal terá tempo de abrir sua bagagem antes de encontrar o primeiro cadáver” [trecho no site de Paul Kidby, ilustrador oficial da série].

Oh, isso soa tão Agatha Christie!

“Onde há um crime deve haver uma descoberta, uma caça e uma punição.”

A previsão de publicação é 13 de outubro de 2011 e, aparentemente, trata-se da sequência de Thud!.

Death on the Nile / Morte no Nilo

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– Vaidade? Como motivo para um assassinato? – perguntou a Sra. Allerton, duvidosa.
– Os motivos dos crimes são, às vezes, muito triviais, Madame.
– Quais os mas frequentes?
– O dinheiro. Isto é, para obtê-lo mais rapidamente. Em seguida, a vingança… o amor, e a filantropia.
– Monsieur Poirot! [Agatha Christie, Morte no Nilo, trad. Newton Goldman. Rio de Janeiro: Altaya, n/d]

A terceira regra de S. S. Van Dine para escrever histórias de detetives proclama que “Não deve haver interesse amoroso no entrecho. A questão a ser deslindada é a de levar o criminoso ao tribunal e não a de levar um casal ao altar.”

Agatha Christie obedece a maioria das vinte regras estabelecidas por Van Dine em 1928 na maior parte das vezes, mas a terceira regra é a que ela quebra mais constantemente desde O Misterioso Caso de Styles, seu primeiro romance policial. Hercule Poirot, o detetive belga que ela criou, é um solteirão, sim, porém um solteirão pronto a reunir maridos e esposas afastados pela suspeita ou mesmo unir jovens enamorados no decorrer das investigações. Até o casamento do Capitão Arthur Hastings foi arranjado por Poirot em Assassinato no Campo de Golfe!

A escritora inglesa não aprovava o amor excessivo, entretanto. Manifestações muito efusivas de afeto eram creditadas a personagens de sangue latino e devidamente ridicularizadas, e mais de uma vez ela expôs a condição trágica da mulher que idolatra o marido, quase sempre sem retribuição. Para ela, um homem que seja o alvo desse amor se sente aprisionado, sufocado. “Um que ama, um que se deixa ser amado”, como diz Poirot em Morte no Nilo [“Un qui aime et un qui se laisse aimer“].

Neste livro publicado pela primeira vez em 1937 Christie quebrou ainda a regra n. 9: “Cada história deve ter unicamente um detetive”. Além de Hercule Porot, o Coronel Johhny Race do Serviço Secreto Britânico participa das investigações. Essa é a segunda vez que se encontram, a primeira foi em Cartas na Mesa [em que também participaram Ariadne Oliver e o Superintendente Battle].

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Agatha Christie 120 Anos | Murder on the Orient Express / Assassinato no Expresso do Oriente

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Há muitos, muitos anos atrás, quando eu ia para a Riviera ou para Paris, costumava ficar fascinada pela visão do Orient Express em Calais, e desejava ardentemente viajar nele. Agora, ele já se tornou um amigo velho e familiar, mas a emoção não morreu de todo. Eu vou nele! Eu estou nele! Estou precisamente no carro azul, com uma simples legenda do lado de fora: CALAIS-ISTAMBUL. É, sem dúvida, o meu trem favorito. [Agatha Christie, Desenterrando o Passado, trad. Cora Rónai Vieira. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1976]

Max Mallowan, Agatha Christie e Leonard Woolley em Ur, 1931

Max Mallowan, Agatha Christie e Leonard Woolley em Ur, 1931

Agatha Christie viajou no trem Orient Express pela primeira vez algum tempo depois de separar-se do primeiro marido. O pedido de divórcio feito por Archibald Christie em 1926, logo após a morte da mãe da escritora, levou-a a uma crise nervosa. Agatha desapareceu por onze dias, mobilizando a polícia, a imprensa e o público, e foi localizada num spa com amnésia. O divórcio foi oficializado em 1928.

Ela já era uma autora famosa por seus romances policiais e a viagem pelo Orient Express foi também a primeira viagem desacompanhada em sua vida inteira. No final da parte 7 e em toda a parte 8 de sua autobiografia, ela conta ao leitor como esta viagem foi libertadora psicologicamente, além de narrar todos os percalços por que passou e descrever as pessoas e lugares que conheceu.

Muitas dessas pessoas e lugares foram retratados no romance policial “Murder on the Orient Express”, publicado pela primeira vez em 1933 nos EUA [e apenas em 1934 na Inglaterra] com o título Murder on the Calais Couch. Agatha Christie estava casada desde 1930 com seu segundo marido, o arqueólogo Max Mallowan, que ela conheceu na segunda viagem a Istambul. Mallowan participava de escavações na Síria e, em sua lua-de-mel [planejada pelo marido como uma surpresa para a esposa], o casal voltou a viajar pelo Orient Express. Talvez por isso, ela dedicou o livro a Max Mallowan.

A trama tem inspiração em dois fatos verídicos: o primeiro foi uma viagem do Orient Express em 1929 quando o trem foi apanhado no meio de uma nevasca e passou seis dias isolado no meio do trajeto. O segundo foi o Caso do Bebê Lindbergh, o rapto e assassinato do filho do aviador Charles Lindbergh nos EUA em 1932.

Os trens são maravilhosos. Ainda os adoro. Viajar de trem é ter a possibilidade de observar a natureza e os seres humanos, cidades, igrejas e rios — de fato, olhar a vida. [Agatha Christie, Autobiografia, trad. Maria Helena Trigueiros. São Paulo: Círculo do Livro, 1989]

Em Assassinato no Expresso do Oriente, o detetive Hercule Poirot encontra-se a bordo do trem a caminho de Calais depois de solucionar um caso na Síria. Ele encontrara-se com um velho amigo, Monsieur Bouc, que atualmente é um dos diretores da Compagnie Internationale des Wagons Lits, no restaurante do Hotel Toklatian. Foi M. Bouc quem conseguiu uma vaga para Poirot no trem, “excepcionalmente lotado para esta época do ano”, segundo o condutor Pierre Michel.

No vagão-restaurante, Poirot é abordado por Samuel Ratchett, um americano que lhe oferece um serviço. Poirot e Bouc já o haviam avistado antes no restaurante do Hotel Tokatlian e não tiveram uma boa primeira impressão. Ratchett recebeu ameaças de morte e quer que Poirot o proteja dos inimigos, mas o detetive o recusa: “Desculpe a franqueza, senhor Ratchett. O que não me agrada é a sua fisionomia.”

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Desafio Literário | Agosto [livro reserva]

Sinopse
Em 1º de agosto de 1954, um empresário é assassinado no Rio de Janeiro. Enquanto isso, o chefe da guarda pessoal de Getúlio Vargas planeja um atentado contra o jornalista Carlos Lacerda – a crise política gerada culminaria no suicídio de Vargas. Misturando realidade e ficção com maestria, Rubem Fonseca relembra um mês marcante para a história do país.

Capa do livro

Capa do livro

O tema do DL de agosto é Romance Policial, um gênero de que eu gosto muito. Mesmo assim demorei a engrenar na leitura: até comecei a ler o livro titular [Cemitério de Indigentes, Patricia Cornwell], mas me pareceu que eu teria de ler os livros da Kay Scarpetta na sequência e não começar pelo quinto volume. 😉

Parti para o livro reserva, cujo título até combina com o mês do tema, veja só! A trama do romance de Rubem Fonseca inicia-se logo na madrugada do dia primeiro de agosto de 1954 na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, com o assassinato do empresário Paulo Gomes Aguiar em seu duplex num edifício de luxo. A investigação cai nas mãos do Comissário Alberto Mattos, um dos raros policiais impolutos da polícia carioca.

Durante a investigação, Mattos encontra pistas que levariam ao Anjo Negro Gregório Fortunato, o chefe da guarda pessoal do presidente Getúlio Vargas. O próprio autor foi comissário de polícia entre 1952 e 1958, portanto podemos supor que o personagem principal de seu livro seja um alter-ego. A narração é feita em terceira pessoa e a atmosfera geral me lembrou um pouco dos policiais noir norte-americanos da década de 1930, com os personagens amorais e cínicos. Alberto Mattos é incorruptível, mas não tem mais ilusões idealistas.

Rubem Fonseca trabalha três núcleos no livro: o primeiro é o dos fatos históricos ocorridos no mês de agosto de 1954 que se iniciaram no complô do assassinato do jornalista Carlos Lacerda, o Corvo. Lacerda sobreviveu, mas seu guarda-costas morreu – como o guarda-costas era um major da Aeronáutica [Rubem Vaz], as Forças Armadas aproveitaram a desculpa para tomar posição contra Getúlio, que vinha perdendo força e poder dentro do governo.

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Sherlock


Estava de bobeira anturdia quando alguém soltou no Twitter o link para download do primeiro episódio da série Sherlock. Eu tava por fora, não tinha lido referências, as séries policiais que sigo regularmente estão de férias, pensei “por que não?” e baixei no escuro.

Até hoje eu só li quatro aventuras do personagem de Sir Arthur Conan Doyle: Um Estudo em Vermelho, duas décadas atrás; O Vale do Terror; O Signo dos Quatro e O Cão dos Baskerville, os três no ano passado. [Sem contar O Estranho Caso do Gato da Sra. Hudson, título lusitano de As Aventuras Científicas de Sherlock Holmes (pt-br), obra de divulgação científica do físico inglês Colin Bruce.] Você percebe então que meu conhecimento é quase inexistente, né? Por isso comecei a assistir ao episódio A Study in Pink sem nenhuma expectativa.

E os primeiros minutos não me atraíram: eram cenas de soldados na guerra e filmes/séries de guerra ficam bem lá atrás na minha lista de preferências. Tratava-se da introdução do personagem John Watson, um médico formado na universidade de medicina Saint Bartholomew [Barts, para os íntimos] que retornou a Londres depois de ser ferido no Afeganistão.  A sequência de cenas a seguir serviu para construir o momento em que Watson é apresentado a Sherlock Holmes por um conhecido em comum, já que ambos comentaram com ele o quanto as suas características pessoais tornam difícil encontrar alguém para dividir o aluguel de um apartamento.

A partir deste ponto há spoilers Continuar lendo

Mais romance policial

O blog Peregrina Cultural publicou post-comentário a um artigo publicado em jornal inglês, listando 80 romances policiais ambientados ao redor do mundo. De Agatha Christie a escolha recaiu sobre Mistério no Caribe.
Para quem procura dicas de outros autores são 79.
;o)

— Trecho:

Esta postagem é baseada no artigo Crime fiction: Around the world in 80 sleuths [Romance policial: a volta ao mundo com 80 detetives] de Jonathan Gibbs. Que saiu na terça-feira passada, dia 22/7/2008, no The Independent, na Grã-Bretanha.

— Link:
Peregrina Cultural – lista com os títulos traduzidos, disponíveis ou não no Brasil;
The Independent
– artigo original, lista comentada com sugestões de leitura.