Sinopse
Num divã de analista, no Rio de Janeiro, Laura fala de sua relação com um homem casado e com um estranho que conheceu numa sessão de cinema. Muito longe dali, em Frankfurt, o latino-americano Javier tem um caso com uma estudante de antropologia chamada Ulrike. Conforme o livro se desenrola, episódios aparentemente desconectados vão tecendo uma surpreendente trama de encontros e desencontros amorosos, o mote deste excelente romance de estréia.
Capa
Depois de dois livros medianos-para-fracos neste mês, eu precisava de uma injeção de ânimo para completar o DL Novos Autores; assim, pedi e a Vivi autorizou a substituição do terceiro título. Optei por uma autora de quem nunca tinha ouvido falar, a partir de uma notinha no blog da Companhia das Letras sobre um evento que debate “a nova literatura feminina brasileira”.
Mas Titia Batata, você não curte esse tipo de literatura segmentada por gênero!
Sim, é verdade. Não curto, não sou o público-alvo, só que uma breve espiada num trecho me convenceu a escolher Toda Terça, o primeiro romance de Carola Saavedra. E sabe o que? É um livro que poderia ter sido escrito por um homem ou uma mulher; é literatura, e literatura não tem gênero.
É bem verdade que no primeiro capítulo fiquei ressabiada, afinal seriam as sessões de psicanálise de uma personagem aparentemente dispersiva. Ao continuar a leitura, aos poucos me senti agarrada. Um dos grandes atrativos do romance é que as coisas importantes não são ditas: Laura fala muito, mas são as coisas que ela não conta a Otávio, o analista, que dizem mais sobre ela.
A mesma coisa acontece com Javier, o estudante de doutorado em Frankfurt que nunca diz o que se passa em sua cabeça. A primeira parte do livro é narrado a duas vozes, alternando-se entre Laura e Javier, e eu gostei muito da solução estética utilizada pela autora para identificar cada voz: a de Laura é exteriorizada em diálogos, a de Javier é interiorizada. Enquanto nos capítulos de Laura o tempo parece aprisionado, letárgico, nos de Javier os minutos transformam-se em meses ao fim do parágrafo e você viveu todos eles.
A segunda parte contém um único capítulo e é narrada por uma terceira voz, que ao mesmo tempo amarra as duas histórias anteriores e lança o marco de uma nova história.
A rotina de Ulrike, que freqüentava bares, lia autores conhecidos sem saber quem eram, gostava de filmes sobre mulheres voadoras e poetas traduzidos, e sonhava em um dia dar a volta ao mundo escrevendo para a National Geographic, como se fosse minha, essa rotina, tão rápido o alheio se infiltrava nos meus olhos, nos meus passos, nos bolsos do meu casaco, e eu já tinha praticamente esquecido o quarto de pensão onde morava, que não era ruim, ao contrário, era até agradável, sem aquele ir e vir de gente e desejos de bom dia e opiniões imprescindíveis a ser transmitidas para o bem da humanidade, […]
Te contar, a mulher tem estilo.
Sobre a autora
Nasceu em Santiago do Chile, em 1973, e veio com a família para o Brasil três anos depois. Morou na Alemanha, onde concluiu um mestrado em comunicação, e também na Espanha e na França. Hoje vive no Rio de Janeiro e é escritora e tradutora. Em 2005, publicou o livro de contos Do lado de fora (7Letras, 2005). Recebeu o prêmio APCA de melhor romance pelo livro Flores azuis (2009). [Cia das Letras]
Nota: 4
(de 1 a 5, sendo: 1 – Péssimo; 2 – Ruim; 3 – Regular; 4 – Bom; 5 – Excelente)
Este post faz parte da blogagem coletiva Desafio Literário 2011 [v. lista de livros agendados], tema Novos Autores.
Blog do Desafio Literário
Título: Toda Terça
Autor: Carola Saavedra
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2007
Páginas: 160