Nome comprido

Eu devia ter pensado antes de criar o nome deste blog [mas, honestamente, nem achei que duraria tanto].

Agora taí, ó, não cabe no leiaute tão bonitinho que escolhi para os próximos meses.

Mal aê.

Nhé.

Tudo culpa da crônica abaixo, claro, que foi de onde saiu a ideia do nome.

Resolvido.

🙂

Sobre Batatas Cor-de-Rosa e Brigadeiros

— Provedor Tuiuti, Luciana, bom dia. Em que posso ajudar?

Lidar com usuários o dia todo é interessante, são vários tipos diferentes e diferentes modos de abordar e reagir.

De manhã ligam os clientes corporativos, as “pessoas jurídicas”. Quando era criança achava que pessoa jurídica eram os advogados, os juízes, os promotores… Quem lidava com carros era uma pessoa mecânica, e médico era o homem-que-dói, ou o homem que espeta. Sempre associei dor com médico e gente de branco. Deve ser por isso que até hoje tenho medo de mãe-de-santo.

À tarde e de noite predominam as pessoas físicas. Por que não pessoa-alma ou pessoa-espírito ou, sei lá, pessoa-antimatéria? E porque exatamente física? O mais certo não seria pessoa físico-química? Ou pessoa química-orgânica? Para abreviar podia se dizer: Fulano é uma pessoa orgânica, para diferenciar das empresas, que seriam inorgânicas. Mais esquisitas ainda são as categorias das empresas.

Uma empresa limitada lembra um prédio cercado de muros com placas indicando: “você está entrando nos limites da Fábrica Inorgânica Limitada; ninguém entra, ninguém sai”. Já uma sociedade anônima soa como um filme noir, uma empresa que só funciona em noites de neblina, em salas com um vigia na porta que pede a senha pra todo mundo que chega e os funcionários usam codinomes no crachá. E a americana incorporated, incorporada? Mais do que vestir a camisa, quem trabalha numa empresa Inc. carrega ela no corpo, num caso clássico de obsessão. Quando o sujeito é demitido chama-se um padre para exorcizar e depois incorporar aquele pedaço da empresa num novo funcionário.

Outro telefonema me salva de idéias cada vez mais non-sense.

— Lu, minha senha não entra. — Morar em cidade pequena tem dessas vantagens, não existe a profissional Luciana, mas a Lu, filha da dona Therezinha e do Teruo da quitanda. Podem nunca ter me visto na vida mas
sabem de tudo a meu respeito, o que automaticamente torna todo mundo amigo de infância.

— Vamos ver o que está acontecendo. — Alguns comandos — Tenta agora.

— Nada ainda. — Hora de cercar o problema, o que às vezes exige uma diplomacia de fazer inveja à D. Lúcia Flexa de Lima, embora nem sempre dê resultado.

— Você pagou a última mensalidade? — Silêncio do outro lado.

O departamento financeiro é centralizado em São Paulo e enquanto procuro o número do telefone ouço o pedido:

— Resolve isso pra mim? — É verdade, tem gente que morre de medo do desconhecido do outro lado da linha: trava, gagueja, não entende os procedimentos e no fim culpa o pobre atendente dizendo que ele não resolve nada. Assim, já fui Suely, Danielle, Ana Laura, Cidinha, Fátima e uma vez até fui Eduardo. Um psiquiatra se deliciaria com esse caso de personalidade múltipla: quem é você hoje?, ele perguntaria.

Bem, doutor, hoje eu sou uma planta. [Espanto] Sou uma batata rosa. [Mais espanto] Acho que ele nunca teve uma paciente batata, quanto mais cor de rosa. Na verdade, ele nunca deve ter * visto* uma batata cor de rosa, o que torna tudo muito mais engraçado.

— Lu, não consigo ver meus e-mails direito! Vou jogar esse computador no lixo, eu estou irritado! — Reconheço a voz sem que ele precise se identificar. É o dono do bufê mais famoso da cidade, um cara alegre e divertido.

— Mas como assim? — Ás vezes fico perdida com os problemas que aparecem — Você não consegue baixar os e-mails, é isso? Como tá a sua configuração SMTP? [E às vezes sou cruel. Só de vez em quando, mas sou.]

— Não, menina… As mensagens ficam todas pela metade, faltando letra do lado direito, a tela tá torta, e até aquela barrinha que rola pra cima e pra baixo sumiu, você sabe qual é, né? — Continuo perdida.

Segue-se uma discussão altamente técnica onde os termos mais comuns são ‘coisinha’ e ‘quadradinho’. No desespero, chuto.

— Experimenta dar dois cliques na barra azul-escuro lá em cima, onde tá escrito… — Bingo!!

— Ah, que maravilha, apareceu tudo! Olha só, estou preparando uns brigadeiros pro aniversário da Fulana, depois deixo uma dúzia pra você.

Desligo o telefone. Ganhei o dia.

Publicado originalmente em dezembro de 2000 no e-zine 700km.

Duas na ferradura

Dois comerciais que me tiraram do sério nesta semana.

O primeiro é velhinho já, o do garoto que faz pirraça no supermercado porque quer brócolis mas a mãe insiste em enfiar-lhe Sustagem. A peça tem mais de dois anos, quase três, e devia permanecer no fundo do cemitério das idéias de jerico da propaganda.

Que Grande A’Tuin me perdoe, mas eu criei uma antipatia daquele menino que faz o Paulinho do Sustagem Kids, uma propaganda que era ainda pior que esse do brócolis…

O timing dessa ressurreição é bem suspeito: logo na época em que a lei da deputada estadual Patrícia Lima [PR], da Assembléia paulista, está na fila de aprovação do governador José Serra. Pela nova lei, as cantinas escolares deverão fornecer alimentação saudável e excluir salgadinhos, biscoitos e refrigerantes.

Mais ou menos o que o Jamie Oliver tentou na Inglaterra, né?

Link http://www.youtube.com/watch?v=2M5tQ3aiB9s

O segundo é o do Fiat Stilo Blackmotion, niqui um casal num carro conversível pára no sinal [semáforo, farol] ao lado do Blackmotion. O cara está a admirar o tal carro quando o vidro do passageiro é baixado e ele percebe que a sua acompanhante escorte companheira o trocou pelo dono do Fiat.

Link http://www.youtube.com/watch?v=2nkyYKH9pts

Será que é TPM?

Atualização
O governador José Serra vetou a lei anticoxinha, como ficou conhecido o projeto de lei de Patrícia Lima.

Sopa & Tortilha / Sabores da Vida

Pôster do filme

Pôster do filme

Sopa & Tortilha [Tortilla soup, EUA/2001] é uma delícia de filme, se me perdoa o trocadilho. A primeira vez que ouvi falar nele foi num top10 no FashionTV de filmes com enfoque culinário – mas eu acho que o título em português era diferente, o problema é que não me lembro qual.

Atualização: é Sabores da Vida – agradecimentos especiais à Suzana pela info!

Em todo caso, peguei no susto passando ontem na Fox e deixei porque não tinha mais muita coisa interessante no horário e de repente *bum* tava paixonada pela história! Primeiro porque o personagem principal é interpretado pelo Hector Elizondo, ator que eu lóvo. Cê conhece, sim, ele era o concierge do hotel que ajudava a Julia Roberts em Uma linda mulher, ou o chefe da segurança da rainha Julie Andrews nos dois Diário da princesa – ou em todos os filmes do Gary Marshall, pra resumir – e atualmente é o psiquiatra de Monk, depois que Stanley Kamel faleceu.

Ou talvez a comida seja a personagem principal? Eu só digo que evite assistir a este filme de estômago vazio: a abertura é uma sucessão excruciante de preparação de pratos que parecem delicosos, um assalto visual tão feroz que até dava a impressão que podia sentir o cheiro dos tomates, pimentões, pimentas… *Slurpt*

Perdão, babei.

Carmen Naranjo: Do you know why we clink glasses before drinking?… It’s so that all the five senses are involved. We touch the glass. We smell the drink. We see its color. We taste it. Hearing is the only sense that doesn’t participate unless we create it.

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Testes de personalidade

Capa de Carmen

Capa de Carmen

Domingão de bode foi salvo por dois testes de personalidade bem legais: um em português que roubei descaradamente da Paola pergunta Que livro é você?
Se você fosse um livro nacional, qual livro seria? Um best-seller ultrapopular ou um relato intimista? Faça o teste e descubra.

Com os resultados da própria Paola [Antologia Poética de Carlos Drummond de Andrade], da Luma [A paixão segundo GH da Clarice Lispector] e do Nei [O vampiro de Curitiba do Dalton Trevisan], agora já sei de quatro dos resultados possíveis. Achei que o meu daria um bestseller ultrapopular, mas virou que deu um gênero que é um dos meus menos favoritos, eita.

*Encarando as duas únicas [auto]biografias da estante encostadas ali, juntando pó.*
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Vou cantar-te nos meus versos

Dirty Sexy Money - S02E03

Dirty Sexy Money - S02E03

O Marcus enviou o link de um post a respeito de True Blood [senquiu!] de um blog que eu não conhecia ainda, o Fora de Série. Ae fui xeretar, né?, e achei uma série de posts com o tema O Brasil nas séries.

São printscreens de cenas em que o Brasil é mencionado de alguma forma na séries norte-americanas, seja numa latinha de Guaraná Antarctica na mão do Chase em House [me passou despercebida!] ou prostitutas ilegais chamadas Rio traficadas pelo gigolô Os Punho em CSI.

A autora do blog Camila Saccomori iniciou a série de printscreens na semana passada e aceita colaborações dos leitores. A minha é esta vista incrível de São Paulo no terceiro episódio da segunda temporada de Dirty Sexy Money [The Star Witness], aquele em que o Brian vem resgatar o filho que Andrea deixava à noite com a babá, a viúva de um criminoso de guerra nazista.

Ainda a respeito de séries: agora a gente já sabe o que é lupus e doença de Huntington, mas e amiloidose? A Cristine Martin explica no blog Rato de Biblioteca.

Dos spoilers e o direito de não saber

Aviso: Este post não contém spoilers.

O que vou comentar agora pode soar estranho vindo duma pessoa que acompanha religiosamente as colunas AskAusiello e Watch With Kristin, mas eu não gosto muito de spoilers inesperados. Tem uma pequena diferença entre eu escolher ler os spoilers conscientemente ou me deparar com eles no meio de uma notícia que eu esteja lendo sobre outro assunto.

Sei que às vezes cometo esse pecado aqui no blog e fico mortificada quando percebo a cag*da que fiz. Não serve como desculpa pras minhas falhas, mas juro que tento evitar e me policiar melhor.

Esse mea culpa me veio à cabeça depois de ler um post do Piers Morgan no blog The Daily Beast [How Susan Boyle won my heart] – aliás, vale a lida para conhecer o ponto de vista dos jurados a respeito do fenômeno Susan Boyle e um lado mais suave do rapaz. Logo no finalzinho, depois da assinatura, me deparei com uma informação que vai mudar a forma como vejo a edição do The American Apprentice que está a ser exibida no Brasil atualmente.

Outro vazamento é tema de muita discussão entre os fãs de O Aprendiz, 6 Universitário da Rede Record, atualmente no ar: os nomes e a ordem dos dez primeiros demitidos do programa foi divulgado por email e parte dessa lista caiu nas mãos da Folha online, que optou por tornar público. Alguns já falam em “perseguição” do jornal contra a emissora, mas eu acredito que seja política da empresa e não uma picuinha particular.

Há poucas semanas, por exemplo, o mesmo jornal foi o primeiro a publicar um spoiler enorme de House. Desde o início do ano os colunistas Ausiello e Kristin vinham provocando a curiosidade dos fãs, mas eles nunca contaram do que ou de quem se tratava. Mesmo depois que o episódio foi ao ar nos EUA, no início de abril, eles comentaram o assunto de forma que quem acessava a página podia escolher se queria ler ou não. A Folha [e alguns blogs em seguida] já desvendaram o mistério na própria manchete – e o episódio só será exibido oficialmente pela AXN no Brasil daqui a algumas semanas, talvez um ou dois meses.

Mas um outro exemplo que me lembro é bem mais antigo, o que pode confirmar a teoria de que a política de spoilers da Folha não é a de prejudicar ninguém em especial, e sim todo mundo de forma geral, afinal é um jornal democrático. Na época que a Globo mutilou exibiu a série Twin Peaks, a Folha publicou um artigo especial de várias páginas com o aviso logo no início de que a matéria continha informações sobre a identidade da pessoa que matou Laura Palmer, que era para parar de ler se não quisesse saber, etc.

Eu recortei essa matéria sem ler, guardei num envelope e colei na minha agenda. No dia seguinte, toda satisfeita por ter dominado a curiosidade e a ansiedade, fui ler a edição do dia e encontro outro artigo que revelava a identidade da pessoa logo no primeiro parágrafo, sem aviso, referindo-se ao artigo do dia anterior. O autor era Álvaro Pereira Jr., em 1991.

Embora tenha sido citado pelo ombudsman da Folha como um dos casos mais graves de “ato editorial equivocado” e lesivo ao leitor, parece que não aprenderam a lição. Na verdade, até acho estranho que não tenham publicado a identidade da pessoa assassina quando a peça A Ratoeira esteve em cartaz em São Paulo. Geralmente os atores fazem um apelo para a platéia não contar esse detalhe quando comentarem a peça. Esse é um detalhe irresistível pra um veículo que prima pelo “eu dei primeiro”.

Por falar em Twin Peaks, a Rede Brasil reprisa a série às sextas, à meia-noite-e-dez, por isso não vou contar que quem matou Laura Palmer foi mmmrprrrgnh!

Conhecimento acumulado soluciona charadas

CSI S09E19

CSI S09E19

Aaah, senquisóde! É por causa de episódios assim que continuo a assistir CSI! Depois da frustração que foi o 200º, demorei um tempão para baixar o ep seguinte e, quando o assisti, quis acertar o cocoruto da minha cabeça com um bastão: esse, sim, foi um episódio especial.

Teve a participação de todos personagens [oh, bem, exceto do Grissom, claro], um pouco do bom e velho humor negro que é intrínseco à série – ou deveria ser, sempre -, uma conclusão bizarra e casos incomuns que exigem raciocínio lógico, e não apenas seguir as pistas usando os equipamentos caríssimos.

Em The Descent of Man usaram um esquema parecido com o de 4 x 4, da 5ª temporada: Nick e Riley têm de investigar o acidente de um paraquedista belga [não francês!]. A poucas centenas de metros do local onde ele caiu, Langston e Brass se deparam o o cadáver de um asceta no deserto. Catherine e Greg investigam a morte de dois sócios por ataque cardíaco fulminante simultâneo.

Observador de pássaros: Such a lonely place to die.
Raymond Langston: What place isn’t, my friend, what place isn’t?

Aviso: A partir deste ponto pode haver spoiler.

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[Livro] A Vida Secreta das Abelhas

Capa nº 1

Capa nº 1

A primeira vez que ouvi falar de A Vida Secreta das Abelhas foi numa notícia a respeito do filme independente indicado a premiações deste ano como o People’s e o Critic’s Choice. Ou um pouco antes, talvez, porque tento acompanhar a carreira da Dakota Fanning e da Queen Latifah, as duas atrizes principais, mas nem sabia que se tratava da adaptação de um livro.

A inguinorânça que astravanca os pogresso!

Há pouco tempo vi o livro num saldão e o comprei sem muita expectativa – OK, para ser bem honesta, foi para completar o valor mínimo e conseguir o frete grátis mesmo, heh – e no fim foi o que gostei mais do pacote.

A autora Sue Monk Kidd disse que a história de Lily Owens é autobiográfica em parte. A história se passa no início dos anos 60, numa região dos EUA afetada pelo racismo e pela intolerância de raça, de classe e de religião. Lily é uma menina branca de 14 anos, órfã de mãe e maltratada pelo pai, que foge de casa para salvar Rosaleen, a mulher negra que toma conta dela desde que a mãe de Lily morreu num acidente com um revólver. As duas acabam se refugiando na propriedade de três irmãs negras que vivem da apicultura.

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