Quanto mais vou sabendo de ti, mais gostaria que ainda estivesses viva. Só dois ou três minutos: o suficiente para te matar. Merecias uma morte mais violenta. Se eu soubesse, não te tinha deixado suicidar com aquelas mariquices todas. Aposto que não sentiste quase nada. Não está certo. Eu não morri e sofri mais do que tu.
Acho que devo começar este post a pedir desculpas pela ocorrência involuntária do palavrão. Não tive como evitar, é o título do livro e desde o começo do Desafio optei por distinguir o livro no título do post, que é para facilitar a identificação nos links e leitores de feed. Aconteceu, foi mal.
O escritor brasileiro Mário Prata contou em uma de suas crônicas que o livro do português Miguel Esteves Cardoso estava a sofrer pouca divulgação da imprensa e dos livreiros quando a editora Francisco Alves o publicou no Brasil em 1995, justamente por causa do seu título, e responde: “Miguel Esteves Cardoso é hoje, na minha opinião, o melhor escritor de Portugal, anos-luzes na frente do segundo colocado. A geração lusitana mais velha talvez prefira um melancólico e prolixo Saramago. Mas Miguel já consquistou os mais jovens.”
Saramago era minha leitura alternativa, eu queria escapar um pouco do óbvio.
Por outro lado, em vez da sinopse que abre os posts do DL optei por colocar um trechinho do livro – o primeiro parágrafo dele, móde tentar demonstrar por que ele me agarrou assim que comecei a ler.
O livro é narrado em primeira pessoa por João, que amava Teresa, em narrativa não-linear. MEC declarou no livro que pretendia apenas escrever sobre o amor, mas quem espera um romance cor-de-rosa ou com aquelas pequenas dificuldades de romances de gênero deve estar ciente de uma coisa: o amor que o autor retrata nesse livro é impossível, imperfeito, não-correspondido, cruel e egoísta.
O narrador não conta uma história, embora o leitor consiga depreender o que aconteceu se prestar atenção; o amor de João por Teresa é incapacitante e quando ele se casa com outra mulher perde até a capacidade de expressão, porque mesmo morta é Teresa quem dá todo o significado à sua vida.
Por que é que fodemos o amor? Porque não resistimos. É do mal que nos faz. Parece estar mesmo a pedir. De resto, ninguém suporta viver um amor que não esteja pelo menos parcialmente fodido. Tem que haver escombros. Tem de haver esperança. Tem de haver progresso para pior e desejo de regresso a um tempo mais feliz. Um amor só um bocado fodido pode ser a coisa mais bonita deste mundo.
Miguel Esteves Cardoso nasceu em Lisboa, Portugal, em 1955, filho de pai português e mãe inglesa. Cursou Estudos Políticos e Filosofia Política na Universidade de Manchester e trabalhou como pesquisador de cultura política no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e foi professor de Sociologia. É escritor, jornalista, crítico de cinema, música e literatura e tradutor.
O Portugal de… Miguel Esteves Cardoso
Link http://video.google.com/videoplay?docid=-3506394389164430543#
Nota: 5
(de 1 a 5, sendo: 1 – Péssimo; 2 – Ruim; 3 – Regular; 4 – Bom; 5 – Excelente)
Este post faz parte da blogagem coletiva Desafio Literário 2010 [v. lista de livros agendados], tema Escritor Português.
Blog do Desafio Literário
Título: O Amor É Fodido [Portugal/1994]
Autor: Miguel Esteves Cardoso
Editora: Assírio & Alvim
Ano: 2004 [12ª edição]
Páginas: 192
As regras e a lista de temas para o Desafio Literário 2011 já estão disponíveis e as inscrições acontecem de 15/10 a 15/12. Se você curtiu a ideia mas não conseguiu participar em 2010, dê uma espiadinha lá.
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caramba, vontade monstro de ler esse agora. =*
O título então faz juz ao enredo!
😉
Interessante… pelo visto o título do livro está bem de acordo com o conteúdo; nem sempre romances mostram o amor que deu certo, né? E tem hora que só com palavrão mesmo…
tá perdoada, titia. 🙂
Realmente, o nome do livro chama atencao!!!! Mas eu adorei a resenha e ja’ coloquei na minha resenha … gosto bastante do genero. Bela escolha, beijos
Bem, você fugiu do óbvio realmente. Pareceu-me uma escrita visceral e angustiada. Não sei se dizer se o leria no momento.
Beijocas
QUe louco!!! tipo suplicio! TO passando esse ae, quem sabe no futuro, se eu der de cara com esse livro hehe!
Bah, não conhecioa esse autor. Fiquei com muita vontade de ler. Sua resenha ficou ótima.
Parabéns: pela escolha e pela resenha.
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