Desafio Literário | Muito Barulho Por Nada

Sinopse
Um homem e uma mulher. Os dois igualmente inteligentes, bem articulados, espirituosos, rápidos em construir respostas espertas a todo tipo de afirmação ou pergunta. É nas falas de Beatriz e Benedicto, dois dos personagens mais queridos do público de Shakespeare, que se fundamenta a parte cômica desta peça, Muito barulho por nada. Quando se encontram os dois, armam-se verdadeiros combates entre esses esgrimistas das palavras, dois alérgicos ao casamento, para o prazer do leitor ou platéia.

Capa

Eu tive uma fase Kenneth Branagh nos anos 90, assistia tudo o que ele fazia. Essa fixação começou com as adaptações das obras de Shakespeare para o cinema, ele que tem formação teatral clássica  shakespereana: Henrique V, Muito Barulho Por Nada [dois dos meus Top Favoritos Foréva, tenho em DVD], Othelo e Hamlet.

Muito Barulho Por Nada [Much Ado About Nothing, Inglaterra, 1993]  foi adaptado da peça de Tio Shakes que foi encenada pela primeira vez entre 1598 e 1599. A ação toda acontece na propriedade do Signor Leonato, governador de Messina, porto na ilha da Sicília que então estava sob o poder do reino de Aragão. Leonato recebe o aviso de que o Príncipe Don Pedro está a caminho.

Em sua comitiva vêm o irmão bastardo de Don Pedro, o vil e amargo Don John; o nobre jovem Claudio; o intrépido e sarcástico Benedicto e outros companheiros de batalha. Eles são recebidos pela filha de Leonato, a gentil Hero; pela sobrinha Beatrice, considerada mais bela do que Hero mas dona de uma língua afiada; por Antonio, irmão de Leonato, e outros membros da casa. A guarda e o sistema judiciário também participam da trama.

O grande atrativo dessa obra, pra mim, é a multiplicidade de temas concomitantes: nós não acompanhamos apenas um romance [ou dois, no caso] ou apenas um drama de traição real ou uma comédia de absurdos ou um debate sobre os papeis masculino e feminino na sociedade, e sim tudo isso de uma vez!

Romance[s]: Temos pra todos os gostos. O de Claudio e Hero tem os elementos trágicos clássicos, o cara que se apaixona pela mina, canta pagodes melosos em seu louvor, vem um falso mano e pá, joga a reputação da mina na lama, o cara injuriado vai lá e arma um barraco, chama de cachorra pra baixo, aí a mina dá uns piripaque e quase morre porque, cê sabe, a vida sem ele num tem mais sentido. Copia? Mas tem também o de Benedicto e Beatriz, que são forçados a se apaixonar um pelo outro pela manobra [quiçá vingança] de Don Pedro, Claudio, Signor Leonato e Hero, que traz resquícios de A Megera Domada [The Taming of the Shrew, Inglaterra/1594] – com a diferença de que aqui ambos são “domados”, o que não deixa de ser um avanço no tratamento de gêneros. 😉

Traição real: Na peça, Don Pedro e Don John vivem um relacionamento no fio da navalha, tendo Don Pedro acolhido o irmão de volta ao seu círculo íntimo depois de perdoar-lhe uma falta  grave. Porém, Don John não abdica de sua natureza pérfida: “É mais condizente com meu sangue ser desdenhado por todos que pavimentar a estrada para roubar a afeição de alguém. Assim é que, muito embora não se possa dizer de mim que sou um homem honesto e bajulador, não se pode negar que sou um patife franco e leal”.

Comédia de absurdos: Talvez seja a minha parte preferida junto com os duelos verbais entre Benedicto e Beatriz e é providenciado pelo personagem Dogberry [interpretado por Michael Keaton no filme], o chefe da guarda que descobre o plano de Borracho e Don John para desacreditar Hero. Dogberry é um homem simples que, escolhido para a guarda do príncipe, se enche de orgulho e tenta portar-se à altura do cargo e desimportância – embaraçando-se todo no caminho.

DOGBERRY – Aposto cinco xelins contra um. Qualquer pessoa, que conheça as estátuas de nossa constipação, vos dirá que pode detê-lo. Mas, evidentemente, só no caso de ele consentir, porque os guardas não devem ofender ninguém, constituindo ofensa deter qualquer pessoa contra a vontade própria.

Para quem não curte ler peças teatrais por causa das indicações de marcação, cenário, etc., essa daqui é uma boa pedida porque não tem nada disso. A tradução é amigável, não usa termos do arco-da-velha; o autor usa discurso corrido ao invés de versos, como era costume. A leitura é rápida e leve.

Sobre o autor
Nasceu em Stratford-upon-Avon, Inglaterra, em 23 de abril de 1565, filho de John Shakespeare e Mary Arden. John Shakespeare era um rico comerciante, além de ter ocupado vários cargos da administração da cidade. Mary Arden era oriunda de uma família cultivada. Pouco se sabe da infância e da juventude de Shakespeare, mas imagina-se que tenha freqüentado a escola primária King Edward VI, onde teria aprendido latim e literatura. Em dezembro de 1582, Shakespeare casou-se com Ann Hathaway, filha de um fazendeiro das redondezas. Tiveram três filhos.

A partir de 1552, os dados biográficos são mais abundantes. Em março, estreou no Rose Theatre de Londres uma peça chamada Harry the Sixth, de muito sucesso, que foi provavelmente a primeira parte de Henry VI. Em 1593, Shakespeare publicou seu poema Venus and Adonis e, no ano seguinte, o poema The Rape of Lucrece. Acredita-se que, nessa época, Shakespeare já era um dramaturgo (e um ator, já que os dramaturgos na sua maior parte também participavam da encenação de suas peças) de sucesso. Em 1594, após um período de poucas encenações em Londres, devido à peste, Shakespeare juntou-se à trupe de Lord Chamberlain. Os dois mais célebres dramaturgos do período, Christopher Marlowe (1564-1593) e Thomas Kyd (1558-1594), respectivamente autores de Tamburlaine, the Jew of Malta (Tamburlaine, o judeu de Malta) e Spanish Tragedy (Tragédia espanhola), morreram por esta época, e Shakespeare encontrava-se pela primeira vez sem rival. [v. mais no site da L&PM]

Much Ado About Nothing Part 1/11


Link http://www.youtube.com/watch?v=PIACPr5XEQM

A adaptação de Branagh é bem fiel ao original, apenas introduziu um terceiro casal no final, formado por Ursula e Antonio – fico pensando se não foi para agradar a então sogrinha Phyllida Law, mãe da sua então esposa Emma Thompson [Beatriz] – ele mesmo interpretou Benedicto, claro. Claudio e Hero foram interpretados por Robert Sean Leonard e Kate Beckinsale; Don Pedro por Denzel Washington; Don John por Keanu Reeves; e Margaret por Imelda Staunton.

Nota: 5
(de 1 a 5, sendo: 1 – Péssimo; 2 – Ruim; 3 – Regular; 4 – Bom; 5 – Excelente)

Este post faz parte da blogagem coletiva Desafio Literário 2011 [v. lista de livros agendados], tema Peças Teatrais.

Blog do Desafio Literário

Título: Muito Barulho Por Nada
Título original: Much Ado About Nothing [Inglaterra/1598]
Autor: William Shakespeare
Tradução: Beatriz Viégas-Faria
Editora: L&PM
Ano: 2002
Páginas: 152

20 comentários sobre “Desafio Literário | Muito Barulho Por Nada

  1. Pingback: Desafio Literário 2011 | Agenda « Pensamentos de Uma Batata Transgênica

  2. Um dos meus filmes favoritos, entre tantos.[1]

    “Eu tive uma fase Kenneth Branagh nos anos 90, assistia tudo o que ele fazia. Essa fixação começou com as adaptações das obras de Shakespeare para o cinema, ele que tem formação teatral clássica shakespereana: Henrique V, Muito Barulho Por Nada [dois dos meus Top Favoritos Foréva, tenho em DVD], Othelo e Hamlet.” [1]

    Gosto muito de quase tudo o que KB fez – tirando o drama/suspense das tesouras gigantes. O Hamlet dele é o que há.

  3. Pingback: Rato de Biblioteca » Blog Archive » Semana do Rato

  4. Hum… Pode até ser interessante ler um deste tipo (bem que eu gosto dos versos, as rimas embalam minha leitura… rs), odeio textos de peça teatral!
    Li o de Ariano sem vontade nenhuma e nem gostei muito dele. Mas até que Gil Vicente (estou lendo a farsa de Inês Pereira) está me surpreendendo, viu?!
    Bjoos

  5. Vc também não ficou desolada quando Kenneth e Emma se separaram? A realeza do teatro shakespeariano… snif-snif. Saudadinha dele. Tá sumido, né?
    É uma das poucas vezes que gostei da adaptação pra filme. Gostei porque a interpretação de Keaton é hilária, Denzel como o príncipe de Aragon quebra a monotonia étnica das adaptações de Shakespeare e porque fizeram música do que no livro era um poema (“sigh no more, ladies, sigh no more…”).
    Estou surpresa que a Kate Beckinsale fez a Hero… completamente differente da imagem que tenho dela hoje em dia.
    Vale a pena ler e ver de novo!

    • fiquei, fiquei desolada! só muito tempo depois soube quem que foi o estopim da separação e até hoje fico matutando se não foi por isso que a emma decidiu não participar da última parte do último filme do harry potter, pra não ter de encontrá-la nos sets… mas isso já faz tanto tempo, né, ambas estão casadas com outros caras e aparentam estar felizes.

      bem está o que bem acaba. 😉

      comecei a assistir wallander com o branagh, até agora tou gostando! e ele dirigiu thor.

      • Mulher, que basfond! Eu não sabia!! Como diria Tio Shakes ‘Sigh no more, ladies, sigh no more! Men were deceivers ever!’
        Humm, bom motivo pra assistir Thor. Quem sabe próximo finds.

  6. Naomi, eu LÓVO com todas as letras “Much Ado about Nothing”, assim como ó, eu também fiquei desolê quando o Ken e Emma se separaram, ô dó, gostava MUITO deles!

    Assisti a uma versão da peça em Londres, em 88, acho, maravilhosa e desde então se tornou minha obra favorita de Shakes.

    O filme é fofíssimo, Kate Beckinsale bebê praticamente, Keanu e Denzel como irmãos, enfim, tudo de bom messsmo, né? rsss

    Pô, sabe que eu gosto do filme das tesouras? Acho muito interessante… Sou supeita, confesso, amo (quase) tudo o que ele faz, “Peter`s Friends”, para mim é um dos melhores filmes EVER!!!

    Enfim, menina, saudades de vc, saudades daqui!

    Beijosssssm
    Chris

Deixar mensagem para naomi Cancelar resposta