Agatha Christie 120 Anos | Murder on the Orient Express / Assassinato no Expresso do Oriente

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Há muitos, muitos anos atrás, quando eu ia para a Riviera ou para Paris, costumava ficar fascinada pela visão do Orient Express em Calais, e desejava ardentemente viajar nele. Agora, ele já se tornou um amigo velho e familiar, mas a emoção não morreu de todo. Eu vou nele! Eu estou nele! Estou precisamente no carro azul, com uma simples legenda do lado de fora: CALAIS-ISTAMBUL. É, sem dúvida, o meu trem favorito. [Agatha Christie, Desenterrando o Passado, trad. Cora Rónai Vieira. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1976]

Max Mallowan, Agatha Christie e Leonard Woolley em Ur, 1931

Max Mallowan, Agatha Christie e Leonard Woolley em Ur, 1931

Agatha Christie viajou no trem Orient Express pela primeira vez algum tempo depois de separar-se do primeiro marido. O pedido de divórcio feito por Archibald Christie em 1926, logo após a morte da mãe da escritora, levou-a a uma crise nervosa. Agatha desapareceu por onze dias, mobilizando a polícia, a imprensa e o público, e foi localizada num spa com amnésia. O divórcio foi oficializado em 1928.

Ela já era uma autora famosa por seus romances policiais e a viagem pelo Orient Express foi também a primeira viagem desacompanhada em sua vida inteira. No final da parte 7 e em toda a parte 8 de sua autobiografia, ela conta ao leitor como esta viagem foi libertadora psicologicamente, além de narrar todos os percalços por que passou e descrever as pessoas e lugares que conheceu.

Muitas dessas pessoas e lugares foram retratados no romance policial “Murder on the Orient Express”, publicado pela primeira vez em 1933 nos EUA [e apenas em 1934 na Inglaterra] com o título Murder on the Calais Couch. Agatha Christie estava casada desde 1930 com seu segundo marido, o arqueólogo Max Mallowan, que ela conheceu na segunda viagem a Istambul. Mallowan participava de escavações na Síria e, em sua lua-de-mel [planejada pelo marido como uma surpresa para a esposa], o casal voltou a viajar pelo Orient Express. Talvez por isso, ela dedicou o livro a Max Mallowan.

A trama tem inspiração em dois fatos verídicos: o primeiro foi uma viagem do Orient Express em 1929 quando o trem foi apanhado no meio de uma nevasca e passou seis dias isolado no meio do trajeto. O segundo foi o Caso do Bebê Lindbergh, o rapto e assassinato do filho do aviador Charles Lindbergh nos EUA em 1932.

Os trens são maravilhosos. Ainda os adoro. Viajar de trem é ter a possibilidade de observar a natureza e os seres humanos, cidades, igrejas e rios — de fato, olhar a vida. [Agatha Christie, Autobiografia, trad. Maria Helena Trigueiros. São Paulo: Círculo do Livro, 1989]

Em Assassinato no Expresso do Oriente, o detetive Hercule Poirot encontra-se a bordo do trem a caminho de Calais depois de solucionar um caso na Síria. Ele encontrara-se com um velho amigo, Monsieur Bouc, que atualmente é um dos diretores da Compagnie Internationale des Wagons Lits, no restaurante do Hotel Toklatian. Foi M. Bouc quem conseguiu uma vaga para Poirot no trem, “excepcionalmente lotado para esta época do ano”, segundo o condutor Pierre Michel.

No vagão-restaurante, Poirot é abordado por Samuel Ratchett, um americano que lhe oferece um serviço. Poirot e Bouc já o haviam avistado antes no restaurante do Hotel Tokatlian e não tiveram uma boa primeira impressão. Ratchett recebeu ameaças de morte e quer que Poirot o proteja dos inimigos, mas o detetive o recusa: “Desculpe a franqueza, senhor Ratchett. O que não me agrada é a sua fisionomia.”

Nesta mesma noite o trajeto do Orient Express é interrompido por um deslizamento de neve  enquanto atravessava a Iugoslavia e o trem fica retido no meio do caminho. Na manhã seguinte o valete Edward Masterman e o secretário particular Hector McQueen encontram o cadáver do patrão Ratchett na cabina, esfaqueado doze vezes. Sua vizinha de compartimento, a Sra. Hubbard, afirma que um homem invadiu sua cabina durante a madrugada.

O livro divide-se em três partes: no primeiro ela apresenta Os Fatos descritos acima; a segunda parte dedica-se a ouvir Os Testemunhos dos passageiros e funcionários; na terceira parte Hercule Poirot pára para pensar e apresenta não uma, mas duas soluções para o crime. Os destaques em negrito são exatamente os títulos de cada uma das três partes.

There are princesses, a lady’s maid, Russians, Americans, Hungarians, Frenchmen, Englishmen, and for good measure, an Italian, a Swede, and a German. Nearly every ethnic group represented hold the other in disdain. [Dick Riley & Pam McAllister, The Bedside, Bathtub & Armchar Companion to Agatha Christie. 2nd Edition. London: Continuum, 2001]

Há princesas, a criada de uma dama, russos, americanos, húngaros, franceses, ingleses e, para juntar-se a eles, um italiano, uma sueca e uma alemã. Cada grupo étnico representado desdenhava o outro [tradução livre].

O romance policial Assassinato no Expresso do Oriente se passa em condições em que Agatha Christie é mestra: o “crime do quatro fechado” ou cometido num ambiente isolado com um grupo controlado de pessoas, que ela usaria em outros de seus principais sucessos como O Caso dos Dez Negrinhos/E Não Sobrou Nenhum e A Ratoeira/Três Ratos Cegos. Depois de ler sua obra, minha impressão é que, de modo geral, a escritora inglesa confiava na Justiça tanto judicial quanto divina e que na maioria de suas tramas era mais importante livrar o inocente da suspeita popular do que punir o culpado, propriamente.

Desde “O Misterioso Caso de Styles” Poirot declara sua desaprovação contra os assassinatos, mesmo quando considera essa desaprovação uma atitude burguesa.

Neste livro, no entanto, Christie atua como uma Nêmesis, a deusa mitológica que personifica a vingança, a punição, o castigo. Esse desvio da sua conduta literária pode ser explicado pelo sentimento público de indignação e horror pelo sequestro e assassinato do bebê Lindbergh, conforme comentei acima. É o mesmo sentimento que mobilizou o público brasileiro em casos como o de Isabella Nardoni ou de João Hélio, com a diferença de que nos casos brasileiros a polícia rapidamente apresentou os culpados à opinião pública e à Justiça, enquanto que no caso de Charles Lindbergh Jr. a polícia apresentou seu suspeito apenas em setembro de 1934 – após a publicação do livro de Agatha Christie, portanto.

“Na volta”, contou ela, “pude conferir tudo que havia pensado na ida. Tive que ver onde ficavam todos os interruptores. Depois de ter lido meu livro, um homem realmente fez a viagem para verificar tudo também.” [Jefrrey Feinman, O Mundo Misterioso de Agatha Christie, trad. Eneida Vieira Santos. Rio de Janeiro: Record, 1989]

Max Mallowan e Agatha Christie saindo de sua casa em Londres para embarcar para mais uma expedição no Iraque (16/01/1933)

Max Mallowan e Agatha Christie saindo de sua casa em Londres para embarcar para mais uma expedição no Iraque (16/01/1933)

A investigação

Hercule Poirot é um detetive belga que se refugiou na Inglaterra para fugir da invasão alemã em seu país natal na Primeira Guerra, ex-policial da Sûreté. Baixinho de olhos verdes e cabeça ovalada, sua principal característica física é o bigode negro e curvado nas pontas. Prefere vestir-se com rigor do que com conforto e fica mais à vontade nas cidades do que no campo, onde nunca há um aquecimento central decente.

Prefere viajar por terra pois sofre do mal de mer, o enjoo marítimo. É um cosmopolita levemente esnobe que sente-se à vontade entre a alta classe mas também consegue a colaboração das classes mais baixas ao adotar uma das diversas personalidades de seu repertório, como Papa Poirot, o padre confessor. Ele conta também com o preconceito que leva as pessoas a subestimar os estrangeiros e exagera seus maneirismos cômicos para conseguir que suas testemunhas cometam indiscrições ao não tomá-lo a sério. Pelo mesmo motivo, exagera nas derrapadas idiomáticas, acentuando o sotaque estrangeiro quando necessário, embora fale um inglês correto.

Para a mente de Poirot, um bom detetive não deixa nenhum detalhe passar sem explicação. “Se o fato não se ajusta à teoria, deixa-se a teoria de lado”, ele diz em O Misterioso Caso de Styles, o primeiro romance policial da escritora, lançado em 1920. Assim, o desfile de pistas em Assassinato no Expresso do Oriente poderia levar outro investigador a aceitar a Teoria do Mafioso que invadiu o trem, esfaqueou Ratchett e fugiu pela neve. Nosso detetive belga, porém, não toma nada como certo e dá mais atenção aos depoimentos das testemunhas do que às investigações forenses.

O trabalho mental [“as pequeninas células cinzentas”, como ele gosta de chamar] consiste em organizar as informações recebidas com “ordem e método”, estabelecer uma linha do tempo, álibis, inconsistências nos testemunhos, reações inesperadas, ajustar tudo isso às evidências que tem em mãos até que tudo faça sentido, por mais improvável que pareça.

– Ah! mon cher! – tornou Bouc, com uma inflexão carinhosa na voz. – Conheço-lhe a reputação. Sei alguma coisa acerca dos seus métodos. Este caso é ideal para o senhor. Investigar os antecedentes de toda esta gente, descobrir-lhe a boa fé, tudo isso custa tempo e incômodos. Mas, acaso, não o ouvi dizer freqüentemente que para resolver um caso basta recostar-se na cadeira e pensar? Interrogue os passageiros, veja o cadáver, observe os indícios e depois… Eu confio no senhor. [Agatha Christie, Assassinato no Expresso do Oriente, trad. Archibaldo Figueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005]

Elenco (1974)

Elenco (1974)

Murder on the Orient Express / Assassinato no Expresso Oriente

A primeira adaptação cinematográfica do livro foi realizada em 1955 na Alemanha, mas neste post não abordarei nem essa nem a versão norte-americana de 2001 da rede de TV CBS, estrelada por Alfred Molina no papel de Poirot.

Em 1974 o diretor Sidney Lumet lançou a versão mais famosa até o momento, que teve roteiros de Paul Dehn. Os direitos da versão britânica só foram obtidos de Agatha Christie graças à intervenção de Lord Mountbatten. Christie estava insatisfeita com as adaptações recentes de seus livros [ela não gostou de nenhuma adaptação de Miss Marple em sua vida] e decidira recusar novas cessões, mas Mountbatten, antigo Vice-Rei da Índia, tio do Príncipe Philip [o marido da Rainha Elizabeth 2ª] e sogro de um produtores interessados, a convenceu a mudar de ideia. A escritora, normalmente reclusa e com dificuldades para andar, compareceu à estreia do filme e acabou gostando do resultado, embora tenha desaprovado o Poirot de Albert Finney.

Como o filme foi realizado mais de 40 anos após o Caso Lindbergh, uma pequena atualização se fez necessária: ao relembrar o caso da menina Daisy Armstrong, Poirot disse que um criminoso foi preso, julgado e executado pelo crime, mas antes de morrer denunciou um cúmplice que teria fugido do país com a maior parte do dinheiro. Isso combina com o desenrolar do caso real. Afora este pequeno detalhe e uma ou outra alteração de nomes [Masterman virou Beddoes, o belga M. Bouc transformou-se no italiano Bianchi, etc.], o roteiro é fiel à obra literária.

Agatha Christie participou de algumas das mais importantes escavações arqueológicas realizadas no Oriente Médio, durante as quais percebeu, maravilhada, que a partir dos indícios desenterrados pela equipe do professor Mallowan era possível construir um conhecimento histórico. […] Os indícios eram como peças de um grande quebra-cabeças, e Agatha Christie certamente percebeu que nesse complexo jogo de formar imagens muitas peças estavam faltando, e que para elaborar um quadro explicativo do passado, ou simplesmente reconstituir o quotidiano de uma sociedade há muito desaparecida, era preciso preencher lacunas. [Flávio Marcus da Silva, Teoria e Verdade Histórica – artigo completo em PDF aqui.]

Apesar do clima de nostalgia promovido pela reconstituição de época e de comportamento social, há uma boa dose de humor no filme. Consta que o diretor permitiu muita liberdade aos atores, deixando-os à vontade para roubar as cenas uns dos outros. Era de esperar uma certa guerra de egos num elenco tão cheio de estrelas, mas isso não aconteceu.

O elenco desta versão somava 58 indicações ao Oscar e 14 estatuetas ganhas entre astros e diretor. O filme recebeu seis indicações em 1975 [roteiro adaptado, música original, figurino, fotografia, ator principal e atriz coadjuvante], mesmo ano em que concorreram O Poderoso Chefão 2 e O Grande Gatsby, mas Ingrid Bergman foi a única a ganhar um prêmio da Academia de Hollywood por Murder on the Orient Express. No BAFTA venceu nas categorias de Melhor Música, Ator Coadjuvante [John Gielgud] e Atriz Coadjuvante [Ingrid Bergman].

Este foi o primeiro de uma série de filmes adaptados da obra de Agatha Christie a contar com elenco estrelado, lançados na década de 1970 e 1980. Nos filmes protagonizados por Poirot desta fase pós-Orient Express, no entanto, a figura do detetive belga coube a Peter Ustinov.

O filme reacendeu o interesse pelo livro e, consequentemente, pelos outros títulos da autora. Charles Lindbergh faleceu três meses antes da estreia do filme e Christie, catorze meses depois da estreia.

Infelizmente, o DVD nacional lançado pela Universal no Brasil é muito pobre. Não contém nenhum material extra e nem mesmo legendas em inglês, nada que recomende sua compra a não ser para fãs de Agatha Christie.

The film premiere was held in London, with Queen Elizabeth in attendance. This event marked the final public event of Agatha Christie’s life. [Dawn B. Sova, Agatha Christie A to Z: The Essential Reference to Her Life & Writings. New York: Checkmark Books, 1996]

A estreia do filme aconteceu em Londres, com a presença da Rainha Elizabeth. Este foi o último evento público da vida de Agatha Christie [tradução livre].


Elenco (2010)

Elenco (2010)

Hercule Poirot never changes his mind. He always sleeps well because he is never uncertain about his conclusions. He has an unyielding sense of justice and truth. For him, right and wrong are like the rails of a train, parallel lines that never meet. Tonight, he takes a famous journey on the most luxurious train in the world, the Orient Express. Wood-paneled sleeping compartments, gourmet meals served on fine china and silver, flawless service. On top of that, the head of the company that runs the train is Belgian and can’t do enough for his compatriot, the famous detective. Poirot finds it mildly pleasant, just as he finds his fellow passengers – European aristocrats, glamorous women, millionaires – vaguely interesting. But when he gets on the train in Istanbul, Poirot has no idea that he is about to make the personal journey of a lifetime. It will shake him to the core. [Alan Cumming, introdução ao episódio]

Hercule Poirot nunca muda de opinião. Ele dorme sempre bem porque nunca duvida de suas conclusões. Seu senso de justiça e da verdade é inflexível. Para ele, certo e errado são como os trilhos de um trem, linhas paralelas que nunca se encontram. Hoje, ele embarca numa famosa jornada no trem mais luxuoso do mundo, o Orient Express. Cabines com painéis de madeira, refeições de alta gastronomia servidas em fina porcelana e prataria, serviço impecável. Pra coroar, o chefe da companhia que dirige o trem é belga e faz de tudo por seu compatriota, o famoso detetive. Poirot acha isso prazeroso, assim como considera seus colegas passageiros – aristocratas europeus, mulheres glamourosas, milionários – vagamente interessantes. Mas quando toma o trem em Istambul, Poirot não faz ideia de que está prestes a embarcar na jornada pessoal de uma vida inteira. Isto o abalará intimamente. [tradução livre]

PBS Masterpiece Mystery! Poirot Series X: Murder on the Orient Express

Os romances policiais de Agatha Christie classificam-se em um subgênero que em inglês se diz “cosy” – algo como “aconchegante”‘ ou “confortável”: sem descrição de atos violentos, banhos de sangue, palavrões ou referências sexuais. Este é um dos motivos pelos quais muitos fãs leram algum livro da escritora pela primeira vez aos 11 ou 12 anos de idade.

A adaptação mais recente choca um pouco este público quando apresenta um suicídio em cena logo nos primeiros minutos de exibição, executado diante de um impassível Poirot. Mais à frente, outra cena perturbadora mostra o apedrejamento de uma mulher adúltera em Istambul, também testemunhado por Poirot, além de Mary Debenham e John Arbuthnot. Mesmo o espectador que não tem familiaridade com o estilo cosy de Agatha Christie sente-se perturbado, especialmente com a segunda cena citada.

– Naquele tempo, como você sabe, mon ami, eu era detetive da polícia belga. A morte de M. Paul Déroulard não me comoveu. Sou católico, como sabe, e sua morte pareceu-me um afortunado incidente. [Agatha Christie, A Caixa de Chocolates in Os Primeiros Casos de Poirot, trad. Maria Moraes Rego. Rio de Janeiro: Record, 1989]

Pessoalmente, não achei que o diretor Philip Martin e o roteirista Stewart Harcourt pretendessem justificar a aplicação da lei muçulmana pela perspectiva cultural. Na minha opinião, apresentaram a questão nas suas duas abordagens mais populares, isto é, a dita diferença cultural e a reação de indignação no mundo ocidental civilizado. É um tema bem atual, com inspiração em casos reais que estão na mídia e até provocaram uma certa saia-justa diplomática envolvendo autoridades brasileiras.

Voltando ao que foi apresentado, a discussão entre os partidários de cada ponto de vista não aconteceu apenas pelo bem da crítica social, mas para defrontá-los novamente no contexto da segunda solução do crime. É possível justificar um assassinato e condenar outro?

Outro aspecto positivo desta adaptação é diluir um pouco o maniqueísmo presente no livro e no filme de Lumet ao apresentar um criminoso em penitência. Há a possibilidade de perdão? De regeneração?

Se o filme de 1974 era um passatempo escapista, este episódio da série Masterpiece Mystery! propõe debates éticos, morais e até religiosos. O roteiro não é tão fiel quanto o filme de 1974, o elenco é mais jovem, o ritmo é menos frenético apesar de durar meia hora a menos.

Há tempo para o ator David Suchet desenvolver um Poirot mais soturno do que o normal; o espectador percebe a crescente crise de consciência que o afeta conforme se dá conta do que realmente aconteceu e de sua responsabilidade ao escolher qual solução apresentar à polícia. A cena final é uma aula de interpretação.

Hercule Poirot: The rule of law — it must be held high! And if it falls you pick it up and hold it even higher! For all society — for all civilized people — will have nothing to shelter them if it is destroyed.

O comando da lei – ele deve ser mantido no alto! E se ele cair você o ergue e o mantém ainda mais alto! Pois toda a sociedade – todas as pessoas civilizadas – não terão nada que as protejam se ele for destruído [tradução livre].

Minha opinião
Difícil dizer qual das duas versões abordadas neste post é a minha favorita. A de Lumet tem a seu favor a fidelidade literária e o elenco, enquanto a de 2010 tem uma abordagem mais profunda tanto do personagem quanto das implicações éticas de um assassinato. São tão diferentes que qualquer comparação torna-se vazia. Se você é fã de Agatha Christie ou não, ambas valem a pena assistir.

Ainda é possível viajar no Orient Express, mas não no mesmo trajeto que a Duquesa da Morte usou em seu livro. Atualmente, o trem viaja entre Bucareste, Budapeste e Sinai. O pacote de seis noites com refeições e hotel para o banho saía por US$9mil em 2008 [v. artigo no Caderno de Turismo do jornal O Estado de São Paulo].

Comparação de elenco


Personagem 1974 2010
Hercule Poirot Albert Finney David Suchet
Caroline Hubbard Lauren Bacall Barbara Hershey
Greta Ohlsson Ingrid Bergman Marie-Joseé Croze
Condessa Andrenyi Jacqueline Bisset Elena Satine
Conde Andrenyi Michael York Stanley Weber
Pierre Michel Jean Pierre Cassel Denis Menochet
Coronel John Arbuthnot Sean Connery David Morrissey
Mary Debenham Vanessa Redgrave Jessica Chastam
Edward Masterman / Beddoes John Gielgud Hugh Bonneville
Princesa Dragomiroff Wendy Hiller Eileen Atkins
Hector McQueen Anthony Perkins Brian J. Smith
Hildegarde Schmidt Rachel Roberts Suzanne Lothar
Antonio Foscarelli Denis Quiley Joseph Mawle
Cyrus Hardman Colin Blakely não existe
Samuel Ratchett Richard Widmark Toby Jones
M. Bouc / Bianchi Martin Balsam Serge Hazanavicius
Doutor Constantine George Colouris Samuel West

Assassinato no Expresso do Oriente 1974 – trailer


Link http://www.youtube.com/watch?v=JTYA01glGqo

Poirot: Murder on the Orient Express – trailer


Link http://www.youtube.com/watch?v=K89xgioWOWI

Adaptações em outras mídias
Rádio: peça transmitida pela BBC4 em 2004. Disponível em Audio CD, com John Moffat no papel de Hercule Poirot.
Audiolivro: narração de David Suchet.
Game: jogo para computador lançado pela The Adventure Game em 2006, narração de David Suchet.
Quadrinhos: publicada na França em 1995 com roteiro de François Rivière e ilustrações de Jean-François Miniac [Solidor], foi traduzida e editada no Brasil em 1996 pela L&PM e relançada numa nova edição dupla junto com Morte no Nilo pela mesma editora em 2010.

Para saber mais
Agatha Christie – site oficial
Resenha de Cristine Martin
Saudi Aramco World – Agatha Christie: Mysteries and the Middle East
The British Museum – Agatha Christie and Archaeology
The Christie Mystery – fanpage
Verbete do livro na Wikipedia, em inglês

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Charles Lindbergh

Agradecimentos especiais
A Flávio Marcus da Silva [Oficina de Histórias], por autorizar o uso de seu artigo neste post. À Bruna Guerreiro Martins [Quarto Escuro], tradutora [francês e inglês] e revisora; à Cristine Martin [Rato de Biblioteca, tradutora [inglês] e revisora; e à Érika Horigoshi [O Mundo das Coisas Ao Meu Redor], jornalista e editora – pela leitura prévia, revisão e críticas feitas a este post. Qualquer erro ou incorreção é responsabilidade minha, a betagem delas foi perfeita.

21 comentários sobre “Agatha Christie 120 Anos | Murder on the Orient Express / Assassinato no Expresso do Oriente

  1. Comentando de novo agora que assisti a versão 2010.

    É MUITO boa, adorei! Bom, eu preciso ficar falando dele? Do cara? Do hômi? Preciso, uai!

    É curioso… as interpretações de Suchet podem não seguir a ordem cronológica, dos livros, mas parecem espelhar o envelhecimento dele. Ele foi se tornando de fato menos enérgico, porém mais complexo e psicológico. E sábio, como se carregasse um conhecimento sobre a humanidade. Anda pelo trem como se tivesse a justiça encarnada em seu bigodinho encerado e, no entanto, nada sabe (cuma?!) a ponto de se surpreender. Toma uma decisão, sim. Mas ela ainda o rói as entranhas. E que cena!, que mini cena aquela final, que expressão facial, os olhos brilhantes úmidos de emoção. Seria dor? Remorso? Pena? Culpa? The fear of God’s justice?

    Comentário extra: neste filme me chamou mais a atenção do que em outros do Suchet o seu pescoço mais magro do que o corpo. Talvez por ter passado um bom tempo de pijama e roupão, logo após o crime. Há cenas em que a nuca denuncia que Suchet é bem mais magro que Poirot e que aquela silhueta tão perfeitamente redondidinha não passa de enchimento. Saudades das golas brancas e altas e dos cafés da manhã com minitorradas com geleia. 🙂

  2. Acabei de ver a versão de 2010. Caramba!

    A Bruna tem razão, o Poirot aqui parece que luta com sua consciência e sofre para aceitar a decisão tomada. Ele está sério desde o princípio do filme, como se estivesse “cansado de guerra” com tantas misérias humanas que tem de presenciar.

    A cena do confronto final no trem e a última tomada são espetaculares, uma aula de interpretação, como você disse. Gostei muito do filme, e mais uma vez acho que Suchet é o melhor Poirot ever.

    Ah, descobri esta semana que toda segunda às 22 h tem episódios da série Poirot no canal Film&Arts. Nem todas as operadoras têm esse canal, mas fica a dica para quem puder assistir. Já sei o que vou fazer toda segunda à noite… 😉

    Beijos!

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