Eu conhecia o nome do norte-americano Charles Lindbergh por dois motivos: o primeiro foi porque ele foi o primeiro homem a atravessar, sozinho, o Oceano Atlântico num vôo sem escalas em 1927, de Nova Iorque [EUA] a Paris [França].
Com este feito ele virou herói nacional, condecorado, etc., etc., etc.
Cinco anos depois, em 1932, seu filho de 20 meses foi seqüestrado, um crime audacioso que mobilizou polícia, imprensa, a população… e inspirou o livro Assassinato no Expresso do Oriente, de Agatha Christie.
Isso era tudo o que eu conhecia da história do cara, herói e vítima, até zapear a tv semanas atrás e pegar metade de um documentário no The History Channel que contava a atuação de Charles Lindbergh na Segunda Guerra Mundial.
A princípio ele se posicionou contra o envolvimento do país na guerra – não porque fosse pacifista e sim porque era um partidário do isolacionismo, política que ignora o que acontece no resto do mundo e cria barreiras econômico-culturais contra influências externas. Um exemplo de país isolacionista é a China.
Quando os EUA foram atacados em Pearl Harbor e a entrada na Guerra tornou-se inevitável, Lindbergh tomou partido de algumas das crenças nazistas, como o anti-semitismo, a supremacia branca e a eugenia. Dentro do contexto da época e do lugar, isso nem era tão incomum assim; outros líderes do mundo livre democrático também partilhavam desses ideais. Alguns ainda partilham. Um dos grandes trunfos de Hitler, afinal, era a sua máquina de propaganda eficiente e azeitada que mostrava o Novo Mundo ideal.
Outro pé de barro de Lindbergh mostrado no documentário foi a existência de três amantes espalhadas pela Alemanha, duas delas irmãs, que geraram pelo menos sete filhos fora do casamento. O americano era um puritano que proclamava ter se casado com a primeira namorada, a indissolubilidade do matrimônio, fidelidade, castidade e outras máximas puritanas cristãs em público, enquanto fornicava com outras mulheres nas suas viagens européias.
De novo, nada de incomum nisso, a hipocrisia está presente em qualquer classe social.
O que o documentário mostrou, pelo menos pra mim, é que o cara teve alguns feitos marcantes [o vôo, a formação da Academia da Força Aérea, seu trabalho pelo meio ambiente], sofreu um golpe que quebraria as pernas de muita gente [o se qüestro e morte do filho] e escorregou feio nos príncipios morais como um homem comum.
Isso não faz dele um vilão, nem um herói. Talvez apenas vítima.
É deveras interessante, Lu…
O herói cultuado é apenas um ser humano, falível!
Fofura, catei a piada da evolução das perguntas de matemática. De vestibular?! 😉
frô, não sei de donde veio… roubei na cara dura.
😀
Que me desulpe a história, mas este cara era um mala.
puritanos geralmente são.
😦
E o mais triste dessa história foi o imigrante que pagou o pato pelo seqüestro. É muito boa a biografia dele que saiu pela Companhia das Letras.
suzana, a história desse seqüestro é muito mal contada, né? chegar a dizer que foi conspiração judaica… credo.
o Philip Roth escreveu um livro, que em inglês se chama Plot against America (foi lançado aqui no Brasil, mas não lembro o nome em português), no qual Lidenbergh é eleito presidente dos EUA e começa uma onda nazista em território Yankee. A história é contada na visão de um garoto judeu. Muito interessante.
karine, ótima dica, brigadê! vou procurar esse livro.
Fascista, como qualquer herói – e não é antiianquismo.
vero… é um defeito inerente dos heróis!
“Complô contra a América”, Companhia das Letras. Ganhei faz um tempão e nem me toquei – enfiei na estante e nunca mais.
rapaiz…
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Li bastante e pelo que percebi na época do sequestro da criança estavam querendo culpar os estrangeiros por tudo e querendo criar uma unidade que prendesse e investigasse pessoas tbm fora das jurisdições… muito suspeito ter sido assim que criaram o fbi , numa mobilização de uma coisa tão drastica e que chamaria atenção de todos e certamente sensibilizaria muita gente de poder. Outra coisa…realmente o estrangeiro Bruce pagou o pato de quem sabe gente mais importante como o próprio pai da criança, que jamais seria suspeito de chamar atenção sobre si como vitima e herói por um sequestro que terminou mal talvez? A babá suicidou-se ou foi morta, ela tinha uma caso com o pai da criança sequestrada? Muita sugeira foi realizada para justificar o ódio e a prisão de estrangeiros em plena guerra, dos gangster e de facções que endeuzaram alguns homens e matavam outros. O mais triste é que no final quem terminou vitimada foi um anjo inocente que teve o azar de vir ao mundo num ambiente tão hostil e manipulador, e que existe até os dias de hoje meus caros. Hoje pior é escutarmos sobre NOM nova orden mundial, armamento haard e tudo mais de ruim que estão surgindo desde essa época. Que Deus tenha piedade de nós!!!